Paulo Afonso-BA: Dia Internacional da Mulher: comemorações e avanços no mundo Agro, mas ainda há muito o que se conquistar


Nos últimos anos a participação das mulheres na gestão das propriedades rurais vem em uma crescente e alguns fatores foram essenciais para essa evolução, dentre eles um maior uso de tecnologia no campo, que favoreceu a inclusão das mulheres, pois muitas atividades deixaram de ser braçais. Além disso também destaco as ações do movimento feminino encorajando outras mulheres a participarem dos negócios rurais, dando vez e voz a quem até então não tinha visibilidade. Também as empresas privadas e as de assistência técnica oficial estão empenhadas em realizar eventos inclusivos, como dias de campo, palestras, congressos, workshops, voltados ao público feminino ou à toda a família e, por fim o aumento da contratação de mulheres em cargos que antigamente eram exclusivamente ocupados por homens. Ainda precisamos evoluir muito neste sentido, mas a cada espaço conquistado é exemplo para que outras empresas possam se conscientizar sobre a importância da participação feminina no mercado agro.

Dados do Censo Agropecuário, do Ministério da Agricultura e da Embrapa confirmam a importância e o crescimento da participação das mulheres na gestão das propriedades rurais brasileiras:

• O Brasil tem mais de 5 milhões de empreendimentos rurais;
• Tem quase 1 milhão de mulheres no comando das propriedades;
• Elas administram cerca de 30 milhões de hectares;
• 42% estão na agricultura;
• 19% são proprietárias das suas terras, e das atividades econômicas que elas desempenham, 32% se dedicam a produzir lavouras temporárias e 11% de lavouras permanentes;
• Das que não são proprietárias, 42% produzem lavouras temporárias e 7% lavouras permanentes;
• Sobre a concentração geográfica: a maioria está na região Nordeste com (57%), seguida pelo Sudeste com (14%), Norte com (12%), Sul com (11%) e Centro-Oeste, que concentra apenas 6% de mulheres participantes da gestão. Vale lembrar que 43% dos 1,3 bilhões de pequenos agricultores no mundo são mulheres, segundo a Comissão sobre a Situação da Mulher da Organização das Nações Unidas (ONU).

A participação feminina tem sido e é destaque dentro e fora da porteira. São inúmeros exemplos de profissionais que conquistaram seus espaços através de muita competência e hoje são referência em suas profissões: agricultoras familiares, produtoras rurais, engenheiras agrônomas, médicas veterinárias, zootecnistas, assistentes sociais, administradoras, contadoras, advogadas, jornalistas, pesquisadoras, executivas, entre tantas outras. É a hora do protagonismo feminino: Nas universidades, nos cursos de agronomia, zootecnia, engenharia de pesca e medicina veterinária, por exemplo, antigamente predominantemente ocupadas por homens, vêm tendo a realidade mudada. Lembro da minha turma de formandos da UFRPE, em 1986, quando éramos 63 formandos e, dentre nós, apenas 08 eram mulheres que estavam concluindo o curso de Bacharel em Medicina Veterinária.

Recentes estudos feitos pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) revelam que 67% das mulheres do mundo agro não sentem que o espaço dado a elas seja igual ao dos homens, seja na agricultura familiar ou mesmo na agricultura empresarial. Para que esta tão sonhada igualdade de oportunidades aconteça de fato, se faz necessário que tenhamos um mundo mais inclusivo, e para isso, é essencial que se incentivem campanhas como a dos “Princípios de Empoderamento das Mulheres da ONU.” Como também a prática efetiva dos princípios de empoderamento das mulheres, que favorecem um ambiente de trabalho mais harmonioso e respeitoso:

• Estabelecer liderança corporativa sensível à igualdade de oportunidades, no mais alto nível;
• Tratar todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho, respeitando e apoiando os direitos humanos e a não discriminação;
• Garantir a saúde, segurança e bem-estar de todas as mulheres e homens que trabalham na empresa;
• Promover educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres;
• Apoiar o empreendedorismo de mulheres e promover políticas de empoderamento das mulheres através das cadeias de suprimentos e marketing;

E tanto dentro quanto fora da porteira, para que mais mulheres possam conquistar seus espaços e alcançar o tão esperado patamar de igualdade de oportunidades, precisamos apoiar e incentivar outras mulheres a conquistarem seus espaços, levar conhecimento e incentivar à capacitação no campo, principalmente em lugares onde isso ainda não é uma realidade, para que tenhamos uma sociedade mais justa e de fato inclusiva. Ainda há muito o que se fazer. Cabe às mulheres ajudarem umas as outras para que a desigualdade possa ser minimizada e para que muitas outras possam ganhar voz e espaço no mercado, fortalecendo uma corrente de liderança feminina, sem egos, sem disputas, entendendo que cada uma tem o seu papel e importância e é capaz de transformar a realidade do local onde está inserida, afinal de contas, contra competência não há argumentos.

Desejo neste dia de comemoração que todos as mulheres possam buscar o melhor em sua vida profissional, e que todas as mulheres possam sentir quão libertador e emancipador é o conhecimento, pois é através do saber que se pode romper as barreiras do preconceito e da ignorância. Parabéns Guerreiras! Feliz dia Internacional das Mulheres!

Anttonio Almeida Júnior – Médico Veterinário, especialista em Gestão de Negócios, Mestre em Extensão Rural e em Desenvolvimento, Consultor em Qualidade e Inspeção de Produtos de Origem Animal e em Políticas Públicas de Desenvolvimento Sustentável.