HISTORICIDADE E JULGAMENTO DE PROCESSOS AFETOS ÀS QUESTÕES RACIAIS NOS ESTADOS UNIDOS E NO BRASIL

José Osmar da Silva Brandão1
José Julião Junior Leite Santos2
Ricardo Sérvulo Fonseca da Costa3

RESUMO: As questões afetas ao racismo nos Estados Unidos e no Brasil têm sido
notoriamente combatidas, entretanto, em pleno século XXI, a luta contra o segregacionismo
racial parece não ter fim. No sul dos EUA, após a Guerra Civil, vigoraram por muitas décadas
as Leis Jim Crow, que promoveram a separação entre brancos e negros, as quais foram
legalmente instituídas como umas das condições de pacificação entre os estados do sul e do norte
americano, sendo revogadas formalmente somente em 1964, com a promulgação das Lei dos
Direitos Civis, que extinguiu a segregação racial nos Estados Unidos. Nesse ínterim, foram
vários casos julgados pela Suprema Corte Americana, cujas decisões, inicialmente, reconheciam
como legais as normas separatistas e, muitos anos depois, somente em 1954, também foram
revogadas pela própria Corte por contrariarem a Constituição. No Brasil, com a abolição da
escravatura em 1888, os escravos foram submetidos à própria sorte na sociedade, pois não
tinham acesso à educação nem possuíam posses, assim, não tinham direitos próprios de cidadão,
o que ocasionou o surgimento de uma nova classe social formada por pessoas negras e pobres, o
que perdura até hoje. Conforme demonstrado neste artigo, segundo dados do IBGE, em 2019,
75% das pessoas que vivem em extrema pobreza no Brasil são pessoas negras, cuja disparidade
numérica acarreta a dificuldade de acesso a cargos mais elevados. Com isso, o Brasil
implementou políticas públicas de ações afirmativas, almejando o combate à desigualdade social
decorrente de práticas discriminatórias raciais. No seio jurídico, destaca-se a mais recente Lei
nº 14.532, em vigor desde 11 de janeiro de 2023, que alterou a Lei nº 7.716/89, tipificando a prática
da injúria racial como crime de racismo, mediante aumento de pena e tornando-a, ainda,
imprescritível e inafiançável. Vê-se, dessa forma, que tanto nos EUA quanto no Brasil há uma
luta constante da comunidade negra, decorrente do fim da escravidão nesses dois países, para
que sejam vistos e que tenham seu lugar de fala e de espaço na sociedade e na Justiça, sendo
necessária a intervenção do Estado para que seus direitos sejam garantidos e preservados.
Palavras-Chave: Racismo nos EUA. Leis Jim Crow. Racismo no Brasil. Inclusão social

1. INTRODUÇÃO
No presente trabalho, busca-se trazer alguns elementos que foram utilizados como
fundamento no julgamento de processos relacionados ao racismo nos Estados Unidos e no
Brasil, a partir de casos que ganharam notoriedade, mediante uma observação histórica até os
dias atuais.
Embora se trate de tema complexo, verifica-se que é sempre atual e pertinente, uma vez
que, por mais que sejam tão divulgados nas mídias os casos que envolvem o racismo,
infelizmente, vimos constantemente situações em que as vítimas são ofendidas em razão da sua
cor da pele, cujo comportamento repisado da sociedade é demonstrado a partir de estereótipos
raciais contra homens ou mulheres negras.
Durante o século XIX, buscou-se justificar as normas de segregação racial por meio do
que se chamou de Racismo Científico, evidenciado quando as características biológicas e
geográficas identificavam o nível de intelectualidade das pessoas, sendo que a negritude foi
classificada como de raça inferior, em resumo.