Em pleno século XXI, com a grande modernização pela qual o mundo passa em todos os aspectos, eis que a cidade de Paulo Afonso, no semiárido baiano, faz seus moradores reviverem cenas inusitadas de aprisionamento por conta de irresponsabilidades do setor fundiário e da administração da CHESF.
Vejam os fatos: Em 15 de janeiro de 1955, em solenidade que contou com a presença do presidente João Café Filho, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) inaugurou a usina de Paulo Afonso I, marco inicial das grandes realizações da empresa no campo da geração de energia elétrica. O sonho dos nordestinos voltava os olhos para as cachoeiras de Paulo Afonso, água em abundância, possibilidades de empregos, contratação de peões para início das obras das hidroelétricas fariam a cidade dar um “boom” econômico.
Desde o início, o regime de segregação era visível, o tratamento dado aos seus funcionários à época já demonstrava o que seria o futuro da cidade. A direção da empresa já mostrava e fazia entender que a cidade seria dividida em muros e sociedades alternativas, ou seja, “aos amigos do rei, tudo; aos pobres, as migalhas”, assim a história foi se desdobrando.
Dentro do muro da vergonha, os moradores da companhia tinham segurança privada, água e energia gratuita, e outras benesses do poder. Do lado oposto, casas de taipas, cobertas por sacos de cimento, fome, miséria e o desejo dos que aqui chegavam de vencer conseguindo um emprego na CHESF.
O entendimento com o município através de um canal de diálogo nunca foi o grande desejo da empresa. Na década de 80, o então prefeito Zé Ivaldo, vencia uma guerra e conquistava o direito do município ter uma participação sobre os royalties que a empresa gerava através do município, enquanto isso o crescimento desordenado às margens do velho Chico evoluía.
Sem quaisquer critérios, a CHESF fechou os olhos e aprovou construções em plena margem de toda sua extensão de barragens que compreendem da Prainha do centro até o Bairro Barroca. Em alguns trechos dos dois lados do rio, teria a CHESF lavado as mãos com a cidade que lhe trouxe riquezas?
Considerada Área de Segurança Nacional, o que mais interessava à empresa eram os lucros que as águas lhe devolviam, que se dane o povo de Paulo Afonso. Por aqui nunca tiveram verdadeiramente pelo menos uma sede administrativa da presidência da empresa, apenas um belo residencial presidencial para passagens rápidas de suas comitivas e convidados.
Hoje, a administração da empresa é composta por “forasteiros”, sem qualquer identidade com o município, sem compromissos sociais com o povo, com verbas extras em seus contracheques, por produção nefastas que visem lucros para a empresa. As decisões são tomadas sem consulta prévia e sem esclarecimentos ao povo e, provavelmente, sem o consentimento do município.
O muro da prisão de Alcatraz está sendo erguido no dique 10, seus moradores próximos e piscicultores são tratados como os Al Calpones do século XXI, uma prisão dentro da prisão. Não se sabe por impedimento de qual parte, mas os moradores da região da Prainha do Candeeiro e do próprio BTN sempre foram olhados pelos olhos do esquecimento.
“É lamentável nos darem esse tratamento por parte da empresa, trabalhamos uma vida inteira para construirmos pequenos comércios, nunca recebemos qualquer notificação por parte da empresa para nos orientar no que pode e não pode, de repente chegam aqui com segurança privada, com vários homens e constroem esse muro que vem para destruir o sustento de muitas famílias”, falou, indignado, um morador e trabalhador da região do dique 10.
Alguns políticos engajados na defesa dos moradores da região e a própria Prefeitura Municipal de Paulo Afonso estão em contato permanente com a direção da empresa e espera-se que as soluções sejam encontradas de forma pacífica, para reparar os estragos sociais já causados pela CHESF.
O site tentará contato com a APA para maiores esclarecimentos à população.